quinta-feira, 19 de junho de 2014

Opinião: Quando uma fruta é mais perigosa que uma bomba

O espaço do Fifa Fanfest é sem dúvida uma excelente opção para assistir aos jogos da Copa do Mundo, em Cuiabá. Claro que desfrutei desta possibilidade, mas com olhares distintos.

Na reta final do meu curso de jornalismo, faço parte da equipe do blog noticioso Hoje Press. Para nosso trabalho experimental de faculdade, escrevemos para o público da baixada cuiabana.

Escalado para ‘cobrir’ as atividades do local oficial de transmissão da Fifa, fiquei surpreso com a rigorosa mobilização dos organizadores em controlar, a todo custo, alguns itens questionáveis,  barrando  também a entrada de certos torcedores.

A nova orientação causou filas enormes, mas a causa era justificável: evitar confusões registradas durante o primeiro jogo da Copa.

Que tipo de perigo uma simples fruta poderia oferecer em um local como esse? Eu não sei, e talvez nem a ‘bem intencionada’ moça que resolveu impedir a entrada de uma mexerica no espaço.

Talvez enquanto os ‘revistadores’ refletiam sobre o potencial de caos eminente da maléfica fruta cítrica, por um segundo, eles ficaram fora do ar, e deixaram que outro torcedor, mal intencionado, entrasse no local portando uma bomba – já falo sobre este artefato.

Além da fruta também foi barrado um grupo religioso. Jovens felizes e de sorrisos estampados no rosto estavam fortemente armados com livros evangélicos.  Ofereciam eles, e a bendita fruta, mais perigo do que a bomba?

A Fifa chegou no Brasil como se fosse um inquilino que tem o poder de impor suas próprias leis no imóvel. E o fez e faz!

Desrespeitando toda e qualquer lei nacional que possa impedir ou ameaçar qualquer fração mínima do lucro estipulado, a entidade máxima do futebol nacional passou por cima do estatuto do torcedor, por exemplo.

Sem a Fifa, a famosa cervejinha nos estádios é expressamente proibida. Com a Fifa, a Lei 10.671/03, que  proíbe a venda de bebidas alcoólicas nesses locais, durante as partidas de futebol, não tem nenhum valor. Nem simbólico.

Afinal, como negar a venda, com preços abusivos, de marcas de cervejas nacionais e importadas, quando estas grandes multinacionais fazem parte do rol das principais patrocinadoras da tal “Copa das Copas”. Aquela mexerica não tinha o rótulo dessas cervejarias, por isso não passou?

Voltemos nossa atenção para a bomba.

Vi e ouvi o estouro. Felizmente não fiquei sabendo de vítimas deste ato. Mas tinha tudo para ser uma tragédia.

Imediatamente após o estouro, me lembrei daquela menina que teve a fruta apreendida. Foi só um relapso. Mas me fez refletir da ausência de autoridades oficias, e do excesso de poder concedido para autoridades ‘despreparadas’.

Durante a transmissão do jogo de Brasil e México, a Fanfest recebia mais de 30 mil pessoas, ao mesmo tempo a Arena Pantanal agrupava um número superior: 40 mil.


Sai de lá com a certeza de que Cuiabá não tem planejamento para realizar eventos de grande porte simultaneamente, que os jovens evangélicos voltaram pra casa alegres, mesmo barrados, por que usaram a entrada do local pra falar do amor de Deus, e de que a menina ficou só na vontade de apreciar aquela apetitosa mexerica.





Heronilton Jr. é aficionado por futebol, corintiano e acadêmico de jornalismo.

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