quarta-feira, 7 de maio de 2014

Mulheres cuiabanas são vítimas de “encoxadores” dentro de ônibus

Fernanda Souza
 A “encoxada” não é considerada crime pela legislação penal. Foto: Reprodução/Internet
“Eu estava de pé no ônibus quando ele começou a se esfregar em mim. Depois de alguns minutos eu perguntei pra ele se estava bom, se ele já tinha terminado. Todos os passageiros do ônibus ficaram olhando pra ele. Ele ficou tão sem graça que desceu no ponto seguinte”. O relato de Ana Paula Gonzaga, auxiliar administrativa de 33 anos e de tantas outras mulheres cuiabanas é recorrente.

Ana Paula sempre dependeu de ônibus para se locomover. Ela conta que situações como essa é comum no dia a dia e que ela já viu acontecer várias vezes, “Eles aproveitam a superlotação para abusar das mulheres que ficam em pé, sem ter como se defender”. Esse abuso a que ela se refere se chama “frotteurismo”- mania sexual caracterizada pela procura de excitação resultante da fricção dos órgãos genitais no corpo de uma pessoa vestida, através de situações nada convencionais-, popularmente conhecidos como “encoxar” ou “sarrar”, e é bem mais comum do que se imagina, explicou a psicóloga Helen Catarina.

“Vale salientar ainda que não devemos dizer que todos os atos que envolvem tal manifestação sejam considerados frotteurismo, porem tal ato sugere. Mas o que é fato é que se trata de uma violência por não ter o consentimento do outro e pode sim ser caracterizado como sendo um abuso sexual”, concluiu Helen.

Para as mulheres que dependem do transporte público, além da falta de estrutura, da precariedade dos ônibus que circulam em Cuiabá e da superlotação, elas ainda são submetidas a situações como essa, onde homens sem pudor se aproveitam da situação para se esfregar.

“Esses dias mesmo eu vi uma moça gritando dentro do ônibus dizendo que tinha um tarado. Quando o ônibus parou, os passageiros, principalmente os homens, correram atrás do “suposto” tarado. Eles o seguraram e chamaram a polícia”, conta Luanara leal, estudante de direito de 20 anos que também depende de transporte coletivo.

A prática ficou tão comum que alguns adeptos do frotteurismo chegam a filmar suas ações, divulgando na internet e em redes sociais. Os “encoxadores”, como eles mesmos se alto denominam postam imagens e vídeos das vítimas e comentam suas ações.

O grande problema é que não há punição para isso. A denominada “encoxada” por si só, não é considerada crime em nossa legislação penal, e é tida no máximo como contravenção penal. “Acredito que seja por isso que as mulheres não procuram a polícia. Não temos nenhum registro de casos como este”, declarou a delegada Cláudia Maria Lisita, da Delegacia de Defesa da Mulher.

Sem punição, para evitar situações como esta, as mulheres se defendem como pode, “Eu evito pegar ônibus lotado, e quando não tem jeito, procuro ficar sempre perto de mulheres. Eu me senti humilhada. Como se fosse um objeto que qualquer um pode pegar e tocar e fica por isso mesmo”, desabafou Ana Paula. 

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